segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mega Post: Eletrônicos²

O que é música eletrônica? Acho que hoje em dia deve existir computadores que podem compor e tocar música, mas mesmo assim a intervenção humana sempre será necessária, nem que seja somente para desenvolver um programa que execute essas funções. A tecnologia vem gradativamente revolucionando a música, desde a eletrificação de vários instrumentos, a partir do início do século passado, até atualmente, através de pioneiros que experimentam novos equipamentos e a consequente evolução na utilização dos mesmos, transformando-os em mais uma ferramenta a serviço da criação de Arte. Arte em forma de Música.

A música eletrônica que ouvimos hoje em dia vem se desenvolvendo por muito tempo, talvez desde a invenção do theremin ou dos primeiros sintetizadores, passando pelos primórdios experimentais de bandas e artistas como Kraftwerk, Neu!, Klaus Schulze e Tangerine Dream, na virada dos 60 para os 70, ou pelo desenvolvimento dos vários teclados utilizados por trocentas bandas de rock progressivo nos 70; mas não pára por aí, graças à invenção da bateria eletrônica e a utilização de pickups (turntable, vitrola, toca-discos...) como instrumentos, mais um passo foi dado.

Nos anos 80, a busca por novidades tecnológicas muitas vezes ultrapassou a questão da sonoridade e composição, se impondo sobre a música em si, o que, de certa maneira, caracterizou o som ‘pasteurizado’ de várias bandas da época. Também em meados dos anos 80 foram desenvolvidos os primeiros samplers e programas de computador especificamente dedicados à música, além de, na virada da década, as baterias eletrônicas já estarem bem mais desenvolvidas, tanto em timbres mais ‘orgânicos’ quanto em variedades rítmicas.

Chegaram os anos 90 e a música eletrônica teve o seu maior vôo até agora. Graças a anos de pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos, de repente ficou fácil, muito fácil e barato produzir música: se você tem um computador, aos poucos pode ir montando um estúdio caseiro, utilizar programas para gravar instrumentos, incluir samplers, programar o ritmo, mexer, remexer, transformar, reciclar, assim por diante... A lei punk do ‘faça você mesmo’ nunca esteve tão à mão.

Hoje a música eletrônica deixou de lado aquele antigo jeitão robótico para se transformar em algo às vezes mais orgânico do que muita coisa não eletrônica feita por aí. Já é algo tão comum, tão normal, que faz parte de nossas vidas, mesmo que não percebamos: trilhas sonoras, pistas de danças, jingles ou no seu mp3 player, só pra curtir uma viagenzinha... As possibilidades são infinitas.

Você deve estar se perguntando aonde esse maluco quer chegar com tanta enrolação? A resposta é simples: nos anos 90, entre as diversas vertentes da música eletrônica, além da figura solitária do DJ, proliferaram várias duplas que angariaram sucesso e prestígio; são discos de algumas dessas duplas que estou disponibilizando hoje nesse mega post.

Essas duplas muitas vezes são de pessoas que nem sequer sabem tocar um instrumento, bastando ter alguma sensibilidade musical, senso rítmico e algum talento com computadores, mixers, etc; são o que eu chamo de ‘manipuladores de som’. Outras, além de utilizar todo o aparato eletrônico, também utilizam instrumentos tradicionais tocados pelos próprios membros ou por convidados.
Vamos lá, uma de cada vez...




Air – Moon
Safari (1998)





Os franceses Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin são do tipo que metem a mão na massa e tocam vários instrumentos, fazem um som que mistura elementos de pop, rock, rock progressivo, ambient, psicodelia e tudo o mais que passar em suas cabeças. Seus shows são como o de várias bandas de rock, com vários músicos no palco, e algumas músicas até ganham um ‘peso’ extra ao vivo. Esse disco é um clássico do gênero, excelente de cabo a rabo, e ainda estou colocando de ‘bônus’ o EP ‘Premiers Symptomes’, também excelente.




Daft Punk – Musique Vol. 1: 1993 – 2005 (2006)




Thomas Bangalter e Guy-Manuel De Homem-Christo, também franceses, se escondem por trás de capacetes de estilo sci-fi para fazerem uma música com essa marca ‘robótica’, mesmo que toquem guitarra, baixo e bateria em várias músicas, inclusive ao vivo (em meio a aparatos tecnológicos e um show de som, iluminação, imagens e lasers muito parecido com o de mega bandas de rock). O som deles varia entre techno, house e outras vertentes similares. Este disco é uma coletânea com seus principais hits.




Akasha – Ci
nematique (1998)





Este é o primeiro disco do Akasha, e traz uma excelente mistura de jazz, bossa nova/lounge, drum ‘n’ bass, trip-hop, hip hop, rock, pop e outros variados ritmos. A dupla formada pelos ingleses Charles James Chasey (guitarras, vocais, teclados e programações) e Damian John Hand (saxofone, flauta, vocais e teclados) contou com várias participações neste disco, inclusive a de Maxi Jazz (Faithless) e Neneh Cherry, que canta na versão de ‘Sweet Child O’ Mine’ - que andou até tocando em rádios daqui, na época.



Thievery Corporation – Sounds From The Thievery Hi-Fi (1998)




Apaixonados por MPB, Rob Garza e Eric Hilton, americanos de Washington, D. C., são DJs, manipuladores de samplers, programações e tudo o mais, e se utilizam de elementos de dub, música indiana, MPB, bossa nova, drum ‘n’ bass e acid jazz, entre outros ritmos, para fazer música com estética ‘lounge’, ao mesmo tempo complexa e de fácil assimilação. Esse é o primeiro disco deles, excelente, e influenciou muita gente que resolveu seguir o estilo dos americanos daí pra frente, gerando involuntariamente vários genéricos, inclusive a tal ‘bossa lounge’, mas nenhum desses conseguiu chegar ao refinamento e classe da dupla.




The Future Sound Of London – Dead Cities (1996)




Entre todos esses discos que estou postando esse ‘Dead Cities’ serve como exemplo dos mais variados ritmos e vertentes da música eletrônica; são viagens ao estilo prog e ambient, batidas drum ‘n’ bass, techno, étnicas, elementos de dub, dubstep e sei lá quantas mil vertentes da música eletrônica moderna, além de fazerem muitas experimentações. Garry Cobain e Brian Dougans, ingleses de Manchester, são as cabeças pensantes do TFSOL, que não se restringe somente à música, trabalhando em conjunto com artistas gráficos e de animação, filmes, vídeos, iluminadores e, até mesmo, transmissões via rádio. Esse disco é daquele tipo que melhora a cada audição; altamente recomendado.




Lemon Jelly –
Lost Horizons (2002)




Os londrinos Fred Deakin e Nick Franglen formaram o Lemon Jelly no final da década de 90 e este é seu segundo e, em minha opinião, melhor disco, lançado em 2002. Em ‘Lost Horizons’ eles apresentam músicas com uma proposta meio progressiva, meio conceitual, explorando vertentes como trip-hop, downtempo, IDM e ambient, onde contam com a participação de vários instrumentistas e vocalistas em todas as faixas. É um disco excelente de se ouvir com fones, no carro, em casa...




The Crystal Method – Vegas (1997)




A vertente conhecida como big beat teve como pioneiros artistas que fizeram grande sucesso, como The Chemical Brothers, Fatboy Slim, Prodigy e The Crystal Method, que é formado pelos americanos Ken Jordan e Scott Kirkland. Algumas das características da big beat são as batidas pesadas, influências do techno e músicas com formato aproximado ao rock, o que encontramos em ótimas variações nesse ‘Vegas’, um ‘clássico’ do gênero. Além de lançarem discos considerados ‘de carreira’, a dupla também fez trilhas para vários filmes (‘Blade’, ‘Resident Evil’ e ‘O Massacre da Serra Elétrica’ de 2003, entre outros) e para video games (‘Fifa ’98’ e ‘Need For Speed: Underground’ são alguns deles), assim como também remixaram músicas e trabalhos de vários outros artistas.



Propellerheads – Decksandrumsandrockandroll (1998)




A dupla Will White e Alex Gifford, ingleses de Bath, só lançou este disco, entre alguns EPs, mas que disco! Seguindo a linha big beat, eles misturaram samplers de filmes de 007, criando excelente trilha sonora para os filmes de ação (a música ‘Spybreak!’ já foi utilizada em vários deles) e para qualquer pista de dança ou rave; além disso, participam do disco os rappers do De La Soul, Jungle Brothers e Shirley Bassey, que canta no hit ‘History Repeating’.




The Chemic
al Brothers – Singles 93 – 03 (2003)




De todas as duplas apresentadas aqui talvez The Chemical Brothers seja a ‘maior’, não só pelo sucesso, mas também pela regularidade com que lançam discos e pela constante qualidade e relevância de seus discos. Tom Rowlands e Ed Simons, como já foi dito, foram pioneiros da big beat. Seus discos trazem sempre a participação de vários vocalistas, entre eles Beth Orton, Tim Burgess (The Charlatans), Noel Gallagher (Oasis), Bernard Sumner (New Order) e Richard Ashcroft. Estou postando aqui a coletânea ‘Singles 93 – 03’, mas pretendo postar, em breve, toda a discografia oficial da dupla.

Sei que deixei outras duplas importantes de fora, como Kruder & Dorfmeister por exemplo, quem sabe não fica pra um outro post?...
Aproveitem: todos os discos foram ripados em alta qualidade sonora e estou disponibilizando os encartes completos de todos eles, também.

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13 comentários:

ROCK PROGRESSIVO disse...

Grande Marcelo...Obrigado pelos comentários lá no museorosenbah...não posso deixar de falar que seu blog está cada melhor, visito todos os dias! :)
Sobre o álbum do Anacrusa, El Sacrificio, no máximo até o quarta feira te dou uma resposta, se for preciso, faço o re-up do álbum sem nenhum problema...

Abraços e Parabéns pelo excelente blog! :)

Danilo Biondi disse...

Marcelão meu brother, blz !!!
O Pântano de cara nova, muito jóia, peguei o REM novo,tb sou maior fã dessa banda. Achei muito bom ...
Abraço
Danilo

Marcello 'Maddy Lee' disse...

. Rock Progressivo!
Visita ilustre!
Obrigado pelos comentários e me desculpe pelo trabalho com o disco do Anacrusa, vou aguardar sua resposta sobre isso. Aliás, o disco é excelente! Valeu!
. Danilão, meu camarada,
mesmo os discos 'marromeno' do REM têm algumas músicas muito boas, o negócio com esse disco é que conseguiram acertar mais vezes no gol do que na trave, ou pra fora, se é que você me entende... rsrsrsrs
Abraços pra todos.
Valeu!
ML

Noslen ed azuos disse...

Aba! Vou conferir estes eletrônicos, meio influenciado pela sua resenha e disposição.
Grande abraço
NS

Big clash disse...

E aí, camarada?
confeço que conheço só o Kraftwerk nest post...mas vou baixar algumas sugestões...por falar nisso, o CAN tem um trabalho bem legal - não sei se tão eletrônico - chamado Floot Motion, se não me falha a memória...se encontrar por aí dê uma conferida.
[]s

Marcello 'Maddy Lee' disse...

. Grande Noslen!
Andavas sumido, meu camarada! Se você não conhece nenhum desses, comece com o Air e o Akasha, mais light e menos eletrônicos que os outros; depois experimente Thievery Corporation, Lemon Jelly e TFSOL. Se esses descerem bem, dê uma conferida em Propellerheads, The Crystal Method, The Chemical Brothers e Daft Punk. Se você chegar ao fim da linha quer dizer que estará irremediavelmente com o vírus eletrônico correndo em suas veias. rsrsrsrs Aí é só se preparar pra discografia do The Chemical Brothers que postarei em breve. Dos que não gostar, a tecla 'delete' está no mesmo lugar de sempre. rsrs
. Big Clash,
bem vindo! Eu sei que você curte mesmo os bons e velhos blues e rock & roll, mas se quiser se aventurar pelos eletrônicos eu sugiro o mesmo caminho das pedras que passei pro Noslen; fiz esse post justamente para oferecer uma oportunidade para quem não conhece, por seja lá qual motivo for, mas tem a cabeça aberta pra experimentar novos sons.
Esse disco do Can, Flow Motion, é dos bão, já tive até em vinil; Can é uma dessas bandas pioneiras como o Kraftwerk e Neu!, porém mais 'orgânica', já flertou até com reggae e dub; tem outros discos deles que também são muito bons, se você quiser conhecer mais deles posso disponibilizar aqui os que eu tenho, futuramente.
É isso aí.
Boa viagem.
Grande abraço.
Valeu!
ML

ROCK PROGRESSIVO disse...

Grande Marcelo...vlw pelo comentário! :)

Sobre o álbum El Sacrificio, do anacrusa, no blog prognotfrog, vc encontra o álbum completo para o download, com os arquivos sem nenhum problema. Eis o link: http://prognotfrog.blogspot.com/2006/10/anacrusa-el-sacrificio-argentina-1978_30.html

ou se vc quiser, pode baixar só a música que estava corrompida através deste link: http://www.4shared.com/file/43570921/4c55b22a/08_los_capiangos__reprise_.html

Abraços!!!

Noslen ed azuos disse...

Opa gostei de AIR, bem viajante, um perigo rsrsrsrs
Vamos ouvir os outros!
Abra�o

Marcello 'Maddy Lee' disse...

. Rock Progressivo, grande museólogo!
Cara, sou eu quem tem que te agradecer, ainda mais pela presteza e rapidez! Valeu, valeu, valeu! Já tô baixando e passando lá no Museo Rosenbach.
. Noslen,
rsrsrs 'um perigo' é ótimo!
Outra coisa boa deles são umas músicas mais do que apropriadas para 'rituais de acasalamento humano', se é que você me entende... rsrsrs
Abraços pros camaradas.
Valeu!
ML

Edson d'Aquino disse...

Diiiiiga, monstro do Pântano!!!
Cara, seu texto tá tão bacana que tô quase gostando de eletrônico, hehehe. Conheço alguns destes aí e posso afirmar que AIR é excelente, até porque acho estranho classificar uma banda que usa Hammond B3, Fender Rhodes, Wurlitzer Piano, etc de eletrônico. E curto bastante também o Chemical Bros.. O Akasha já fui apresentado e é bacaninha também. Agora...Daft Punk é de dar um teco na cabeça, hehehe!
Que que cê acha do Pop Will Eat Itself? E de alguns trabalhos do Talk Talk? E da banda que iniciou o eletro-punk (definição minha), Sigue-Sigue Sputnik?
[]ões

Marcello 'Maddy Lee' disse...

Grande Edson,
uns desses eletrônicos são muito bons praquela brincadeira de ficar solando em cima, criando riffs, etc - diversão garantida! rsrs
Dessas bandas que você citou não sou muito fã, não; uma música ou outra, tipo 'Cicciolina, Cicciolina... ' do PWEI, e outras coisas de morrer de rir. O Talk Talk tem até umas coisas meio prog que são interessantes. Já o SSS, com aquele visual deles, só rindo mesmo... rsrsrs Talvez sejam uma das influências do Nine Inch Nails, sei lá.
O do Thievery Co é um disco bem agradável, bem calcado em dub 'light' e tem a Bebel Gilberto cantando uma música; talvez a primeira-dama goste.
Na minha opinião, acho que você deveria baixar tudo e dar uma ouvida, nem que seja só pra ver qual é e depois jogar fora.
Valeu!
Abração.
ML

Edson d'Aquino disse...

Pois é, dessas que citei só curto o Talk Talk mas os outros dois, como vc bem lembrou, são influência clara pro NIN, Prodigy, Marilyn Manson e uma porrada de sons que neguim tá ouvindo por aí.
[]ões

H. Melissopoulos disse...

Parabéns amigo, post excelente!