quinta-feira, 26 de julho de 2012

Anyone's Daughter

Essa banda é aquela que confirma que toda regra tem uma exceção: em plena virada da década de 70 pra de 80, quando todas as maiores bandas de rock progressivo encontravam-se em processo de decadência, surgiu Anyone's Daughter, com um discaço de estréia, 'Adonis'.Era o ano de 1979 e Harald Bareth (vocais e baixo), Uwe Karpa (guitarras), Matthias Ulmer (teclados e vocais) e Kono Konopik (bateria) já vinham ralando desde '72, fazendo shows em pequenos lugares ou abrindo para bandas maiores. Aos poucos foram amadurecendo seu processo de composição e arranjos, tentando encontrar o seu próprio som, trazendo em sua bagagem influências das principais bandas progressivas, sejam elas alemãs, como Eloy ou Grobschnitt, inglesas, como Camel ou Yes, como também de outras nacionalidades, como Focus, Kayak, PFM ou Atoll. Mesmo tendo lançado seus principais discos no início da década de 80, eles conseguiram se livrar do rótulo 'neo-progressivo', não só por estarem na ativa por mais tempo, mas também por sua proposta musical não ser compatível com o que se convencionou relacionar a este subgênero.

As contradições envolvendo a banda não param por aí. Em seu segundo disco, auto-intitulado, eles trazem músicas com arranjos um pouco mais simples, com um levíssimo apelo pop, mas sem deixar de lado o lado mais complexo inerente ao gênero. Nessa época já tinham alcançado sucesso e fama pela Europa, inclusive tendo excursionado com Alexis Korner, que virou grande fã da banda. Eles poderiam, mas não se acomodaram e surpreenderam tanto o público quanto a crítica quando lançaram 'Piktors Verwandlungen'*, um disco conceitual, baseado na obra homônima de Hermann Hesse, onde não há sequer uma música cantada (somente declamações do conto), nem pausas entre as faixas; além de ser um disco gravado ao vivo, sem overdubs. Qual artista, em sã consciência, no auge de seu sucesso, dá uma guinada desse tipo em sua carreira? Isso vai contra todas as teorias malucas de gravadoras, críticos e afins; porém todas essas teorias não levam em conta o quanto de credibilidade um artista consegue somente por trazer ao mundo uma idéia original bem executada.No disco seguinte as contradições continuaram... Em vez de seguir a linha mais experimental do disco anterior, 'In Blau' é bem parecido com o disco de 1980, com músicas em formato similar, com a já consagrada marca da banda; mas dessa vez todas as músicas são cantadas na língua germânica, numa atitude de quase desdém pela indústria e pelo mercado mundial – assim, mais uma vez, eles demonstram sua forte personalidade e a qualidade de sempre nas composições e arranjos. O disco ainda traz a primeira mudança na formação da banda, já que o baterista Kono Konopik os deixou por motivos pessoais e foi substituído por Peter Schmidt.O Anyone's Daughter continuou em ótima forma e em 1983 lançaram 'Neue Sterne', o disco deles com maior apelo pop, talvez finalmente cedendo às pressões da gravadora; porém com canções de surpreendente qualidade e novamente com todas as letras em alemão. Logo no ano seguinte lançaram seu primeiro disco ao vivo, batizado simplesmente como 'Live', gravado durante a turnê de 'Neue Sterne'. Nesta turnê uma série de motivos levou a banda a se separar: problemas familiares, pressões da gravadora, desgaste de relacionamento entre os próprios músicos e com a equipe, entre outras questões particulares, o que ocasionou o fim da banda, bem ao seu estilo: contraditoriamente, no auge do sucesso.Depois da separação, Uwe Karpa e Matthias Ulmer convocaram Michale Braun (vocais e teclados), Andi Kemmer (baixo) e Goetz Steeger (bateria e vocais) para tentar dar prosseguimento à banda, mas o projeto naufragou antes mesmo de sair do porto e o pouco que produziram nesse período foram as cinco primeiras músicas do disco 'Last Tracks', de 1986, que ainda traz um biscoito finíssimo: 4 músicas de uma demo de 1977 que, apesar da baixa qualidade de áudio, mostra todo o potencial do que a banda viria ser no futuro, com ótimas composições.O tempo passou e graças ao interesse de outras gerações a música progressiva teve um tipo de revival na virada do século. Várias bandas voltaram às atividades e, então, depois de 14 anos, Karpa e Ulmer aproveitaram a oportunidade para reviver os velhos tempos; logo reformularam a banda, porém com uma proposta bastante diversa do passado. Em 2001 lançaram 'Danger World' com André Carswell (vocais), Raoul Walton (baixo) e Peter Kumpf (bateria), fazendo um som que mescla fusion, prog e hard rock, e se apresentaram por vários países, tocando tanto o novo material quanto alguns de seus antigos sucessos. Aproveitando a volta, foram lançados também, em 2001 e 2003, dois discos com antigos registros ao vivo. Em 2004 lançaram 'Wrong', que, como o anterior, nem de longe parece o Anyone's Daughter dos velhos tempos, porém como a contradição é praticamente uma marca registrada da banda, se esquecermos o nome da banda e ouvirmos o disco sem preconceitos, sem idéias pré-concebidas e sem esperar pelo prog que os eternizou, até que o disco também é muito bom, muito acima da média dos auto-clichês que várias bandas de prog se tornaram. Finalmente, em 2006 lançaram um disco ao vivo que registra um momento especial da banda, com a formação de trio, com Ulme, Karpa e Carswell, que foi chamado simplesmente ‘Trio Tour’.Não sei bem se eles continuam na ativa, mas espero que sim, como também espero que eles continuem a nos surpreender – quem sabe no ano que vem eles lancem um disco com o rock progressivo mais puro, com a participação de todos os outros músicos que já deram suas contribuições à banda, quem sabe?... rsrs
Estou disponibilizando aqui a discografia completa da banda, com exceção do disco que lançaram em formato de trio, já que não o achei em lugar nenhum; a maioria tem encartes completos. O disco “Adonis” teve uma edição especial em que a faixa principal, dividida em 4 partes, foi editada desta forma, em vez de um único arquivo, além de trazer, também, mais duas faixas extras (“The Taker” e “The Warship”) – as duas versões estão aqui.
Para finalizar, uma pequena nota pessoal: para continuar o quesito 'contradições', eu, que não sou muito fã de discos ao vivo, como todos já devem saber, tenho entre os meus preferidos do gênero dois do AD: 'Piktors Verwandlungen', não só por ser também um disco de inéditas, mas pela altíssima qualidade do material, e 'Live', onde eles mostram que em seus shows a improvisação também tem vez e que sabiam aliar momentos de leveza a momentos de puro vigor.
Esta postagem foi feita originalmente em 15 de dezembro de 2008, sob o título “A Exceção da Regra”, quando eu ainda não tinha a discografia completa; desta forma, já que estou re-upando vários links que foram deletados durante todo esse processo (a queda do Sharebee há algum tempo e, mais recentemente, do MultiUpload) resolvi refazer a coisa toda, só pra tudo ficar um pouco mais organizado. No mais, carissississsississíssimos amigos, freqüentadores anônimos e visitantes em geral, só há mais duas coisas a serem ditas: divirtam-se e comentem!

ProgArchives
Wikipedia

Links (5kb) – Mirror Creator

*Piktors Verwandlungen’ é um conto de Hermann Hesse, ilustrado pelo próprio que, além de escritor, também se dedicava à pintura de aquarelas.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Slim Cessna’s Auto Club

Slim Cessna’s Auto Club é uma banda de Denver, Colorado, EUA, formada em 1992 pelo cidadão que também está no nome da banda: Slim Cessna. Esse senhor aí é o maior responsável por tudo na banda, das composições ao conceito em geral, seja como o principal vocalista, arranjador, banjista e guitarrista.
Inicialmente a banda fazia um som que eu chamo de Country Punk, mesmo que sonoramente haja um mínimo de quase nada de punk, mas mais pela atitude em si, no sentido do “faça você mesmo” inerente ao movimento punk, já que os músicos são também responsáveis por outros aspectos que não somente tocar, já que muitos dos instrumentos que utilizam foram construídos por alguns deles, além da arte das capas, gravações em estúdio e, também, pela administração do próprio selo, entre tantos outros aspectos.
Até o álbum ao vivo “Jesus Let Me Down” (que inclusive traz músicas que constariam em álbuns posteriores) eles se dedicavam prioritariamente a fazer um country de raízes bem fincadas, com alguns aspectos de bluegrass, folk, gospel e rockabilly, mas, até hoje, a maior diferença está na temática das letras, que têm forte influência do cristianismo, mas com um olhar nem um pouco fanático, muitas vezes até contestador e, também, apocalíptico – o que os fez ganhar a ridícula alcunha de banda de gothabilly... -, além de abordarem temas da vida em geral, como bebedeiras, brigas, relacionamentos, corações partidos e muitos aspectos assim mais mundanos. Se existe o rótulo Alt-Country, Slim Cessna’s Auto Club talvez seja a banda mais significativa do gênero – ao menos é a mais radicalmente country e alternativa.
A partir do álbum “Cipher” (de 2008) o som ficou muito mais diversificado, ganhando tinturas de rock alternativo, blues, psicodelia e tudo o mais que venha às cabeças dos malucos. Os três últimos álbuns são verdadeiros tesouros musicais, os que eu mais gosto nessa excelente discografia, com momentos dignamente geniais.
Cessna pode ser a cabeça do grupo, mas nada aconteceria se alguns dos outros membros não tivessem tanta importância quanto ele, mesmo que por ali tenha rodado muita gente, já que muitos amigos e familiares costumam participar nos discos e nos shows. Entre tantos, devemos dar grande destaque a John Munly (às vezes creditado Munly Munly, que é um perfeito sideman para Slim Cessna, seja nos vocais, no banjo ou em outros variados instrumentos),  John Rumley (responsável por guitarras, lap steel, pedal steel, entre outros instrumentos, alguns que ele próprio fabrica), Lord Dwight Pentacost (multi-intrumentista) e Danny Pants Grandbois (baixista), já que estes são os membros mais constantes na trupe. 
Até bem pouco tempo atrás, eu gostava pouquíssimo, quase nada, de country music, e isso era devido a relacionar o gênero a artistas que, mesmo talentosos, pouco me agradam, talvez pela caretice americana, por ser uma coisa assim “mainstream”, por ter influenciado diretamente o breganejo brasileiro, etc, mas é claro que nunca ignorei figuraças como Johnny Cash, Hank Williams e Willy Nelson. Graças ao meu brodim Edson D’Aquino de los Gravetos & Berlotas, que me aplicou o excelente cantor e guitarrista Brad Paisley, resolvi deixar de lado os preconceitos e me aprofundar um pouco mais nesse gênero musical, o que foi totalmente excelente, já que andei descobrindo ótimos artistas e bandas, mesmo que com propostas totalmente diferentes entre si e, entre todos, Slim Cessna’s Auto Club está entre meus preferidaços. Sendo assim, estou disponibilizando aqui a discografia completa da banda, com o máximo de qualidade (bitrate) e dos encartes que pude encontrar na grande rede.
Só me resta dizer o de sempre: divirtam-se! E comentem!!!!!!

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