
O que é música eletrônica? Acho que hoje em dia deve existir computadores que podem compor e tocar música, mas mesmo assim a intervenção humana sempre será necessária, nem que seja somente para desenvolver um programa que execute essas funções. A tecnologia vem gradativamente revolucionando a música, desde a eletrificação de vários instrumentos, a partir do início do século passado, até atualmente, através de pioneiros que experimentam novos equipamentos e a consequente evolução na utilização dos mesmos, transformando-os em mais uma ferramenta a serviço da criação de
Arte.
Arte em forma de
Música.

A música eletrônica que ouvimos hoje em dia vem se desenvolvendo por muito tempo, talvez desde a invenção do theremin ou dos primeiros sintetizadores, passando pelos primórdios experimentais de bandas e artistas como
Kraftwerk,
Neu!,
Klaus Schulze e
Tangerine Dream, na virada dos 60 para os 70, ou pelo desenvolvimento dos vários teclados utilizados por trocentas bandas de rock progressivo nos 70; mas não pára por aí, graças à invenção da bateria eletrônica e a utilização de pickups (turntable, vitrola, toca-discos...) como instrumentos, mais um passo foi dado.

Nos anos 80, a busca por novidades tecnológicas muitas vezes ultrapassou a questão da sonoridade e composição, se impondo sobre a música em si, o que, de certa maneira, caracterizou o som ‘pasteurizado’ de várias bandas da época. Também em meados dos anos 80 foram desenvolvidos os primeiros samplers e programas de computador especificamente dedicados à música, além de, na virada da década, as baterias eletrônicas já estarem bem mais desenvolvidas, tanto em timbres mais ‘orgânicos’ quanto em variedades rítmicas.

Chegaram os anos 90 e a música eletrônica teve o seu maior vôo até agora. Graças a anos de pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos, de repente ficou fácil, muito fácil e barato produzir música: se você tem um computador, aos poucos pode ir montando um estúdio caseiro, utilizar programas para gravar instrumentos, incluir samplers, programar o ritmo, mexer, remexer, transformar, reciclar, assim por diante... A lei punk do ‘
faça você mesmo’ nunca esteve tão à mão.

Hoje a música eletrônica deixou de lado aquele antigo jeitão robótico para se transformar em algo às vezes mais orgânico do que muita coisa não eletrônica feita por aí. Já é algo tão comum, tão normal, que faz parte de nossas vidas, mesmo que não percebamos: trilhas sonoras, pistas de danças, jingles ou no seu mp3 player, só pra curtir uma viagenzinha... As possibilidades são infinitas.

Você deve estar se perguntando aonde esse maluco quer chegar com tanta enrolação? A resposta é simples: nos anos 90, entre as diversas vertentes da música eletrônica, além da figura solitária do DJ, proliferaram várias duplas que angariaram sucesso e prestígio; são discos de algumas dessas duplas que estou disponibilizando hoje nesse mega post.

Essas duplas muitas vezes são de pessoas que nem sequer sabem tocar um instrumento, bastando ter alguma sensibilidade musical, senso rítmico e algum talento com computadores, mixers, etc; são o que eu chamo de ‘manipuladores de som’. Outras, além de utilizar todo o aparato eletrônico, também utilizam instrumentos tradicionais tocados pelos próprios membros ou por convidados.
Vamos lá, uma de cada vez...

Air – Moon Safari (1998)
Os franceses
Jean-Benoît Dunckel e
Nicolas Godin são do tipo que metem a mã

o na massa e tocam vários instrumentos, fazem um som que mistura elementos de pop, rock, rock progressivo, ambient, psicodelia e tudo o mais que passar em suas cabeças. Seus shows são como o de várias bandas de rock, com vários músicos no palco, e algumas músicas até ganham um ‘peso’ extra ao vivo. Esse disco é um clássico do gênero, excelente de cabo a rabo, e ainda estou colocando de ‘bônus’ o EP ‘
Premiers Symptomes’, também excelente.

Daft Punk – Musique Vol. 1: 1993 – 2005 (2006)
Thomas Bangalter e
Guy-Manuel De Homem-Christo, também franceses, se escondem por trás de capacetes de estilo sci-fi para fazerem

uma música com essa marca ‘robótica’, mesmo que toquem guitarra, baixo e bateria em várias músicas, inclusive ao vivo (em meio a aparatos tecnológicos e um show de som, iluminação, imagens e lasers muito parecido com o de mega bandas de rock). O som deles varia entre techno, house e outras vertentes similares. Este disco é uma coletânea com seus principais hits.

Akasha – Cinematique (1998)
Este é o primeiro disco do
Akasha, e traz uma excelente mistura de jazz, bossa

nova/lounge, drum ‘n’ bass, trip-hop, hip hop, rock, pop e outros variados ritmos. A dupla formada pelos ingleses
Charles James Chasey (guitarras, vocais, teclados e programações) e
Damian John Hand (saxofone, flauta, vocais e teclados) contou com várias participações neste disco, inclusive a de
Maxi Jazz (
Faithless) e
Neneh Cherry, que canta na versão de ‘
Sweet Child O’ Mine’ - que andou até tocando em rádios daqui, na época.
Thievery Corporation – Sounds From The Thievery Hi-Fi (1998)
Apaixonados por MPB,
Rob Garza e
Eric Hilton, americanos de
Washington,
D. C., são DJs, manipuladores de samplers, programações e tudo o mais, e se utilizam de eleme

ntos de dub, música indiana, MPB, bossa nova, drum ‘n’ bass e acid jazz, entre outros ritmos, para fazer música com estética ‘lounge’, ao mesmo tempo complexa e de fácil assimilação. Esse é o primeiro disco deles, excelente, e influenciou muita gente que resolveu seguir o estilo dos americanos daí pra frente, gerando involuntariamente vários genéricos, inclusive a tal ‘bossa lounge’, mas nenhum desses conseguiu chegar ao refinamento e classe da dupla.
The Future Sound Of London – Dead Cities (1996)
Entre todos esses discos que estou postando esse ‘
Dead Cities’ serve como exemplo dos mais variados ritmos e vertentes da música eletrônica; são via

gens ao estilo prog e ambient, batidas drum ‘n’ bass, techno, étnicas, elementos de dub, dubstep e sei lá quantas mil vertentes da música eletrônica moderna, além de fazerem muitas experimentações.
Garry Cobain e
Brian Dougans, ingleses de
Manchester, são as cabeças pensantes do
TFSOL, que não se restringe somente à música, trabalhando em conjunto com artistas gráficos e de animação, filmes, vídeos, iluminadores e, até mesmo, transmissões via rádio. Esse disco é daquele tipo que melhora a cada audição; altamente recomendado.

Lemon Jelly – Lost Horizons (2002)
Os londrinos
Fred Deakin e
Nick Franglen formaram o
Lemon Jelly no fina

l da década de 90 e este é seu segundo e, em minha opinião, melhor disco, lançado em 2002. Em ‘
Lost Horizons’ eles apresentam músicas com uma proposta meio progressiva, meio conceitual, explorando vertentes como trip-hop, downtempo, IDM e ambient, onde contam com a participação de vários instrumentistas e vocalistas em todas as faixas. É um disco excelente de se ouvir com fones, no carro, em casa...

The Crystal Method – Vegas (1997)A vertente conhecida como big beat teve como pioneiros artistas que fizeram gran

de sucesso, como
The Chemical Brothers,
Fatboy Slim,
Prodigy e
The Crystal Method, que é formado pelos americanos
Ken Jordan e
Scott Kirkland. Algumas das características da big beat são as batidas pesadas, influências do techno e músicas com formato aproximado ao rock, o que encontramos em ótimas variações nesse ‘
Vegas’, um ‘clássico’ do gênero. Além de lançarem discos considerados ‘de carreira’, a dupla também fez trilhas para vários filmes (‘
Blade’, ‘
Resident Evil’ e ‘
O Massacre da Serra Elétrica’ de 2003, entre outros) e para video games (‘
Fifa ’98’ e ‘
Need For Speed: Underground’ são alguns deles), assim como também remixaram músicas e trabalhos de vários outros artistas.
Propellerheads – Decksandrumsandrockandroll (1998)A dupla
Will White e
Alex Gifford, ingleses de
Bath, só lançou este disco, entre alguns EPs, mas que disco! Seguindo a linha b

ig beat, eles misturaram samplers de filmes de 007, criando excelente trilha sonora para os filmes de ação (a música ‘
Spybreak!’ já foi utilizada em vários deles) e para qualquer pista de dança ou rave; além disso, participam do disco os rappers do
De La Soul,
Jungle Brothers e
Shirley Bassey, que canta no hit ‘
History Repeating’.

The Chemical Brothers – Singles 93 – 03 (2003)De todas as duplas apresentadas aqui talvez
The Chemical Brothers seja a ‘maior’, não só pelo sucesso, mas também pela regularidade com que lançam

discos e pela constante qualidade e relevância de seus discos.
Tom Rowlands e
Ed Simons, como já foi dito, foram pioneiros da big beat. Seus discos trazem sempre a participação de vários vocalistas, entre eles
Beth Orton,
Tim Burgess (
The Charlatans),
Noel Gallagher (
Oasis),
Bernard Sumner (
New Order) e
Richard Ashcroft. Estou postando aqui a coletânea ‘
Singles 93 – 03’, mas pretendo postar, em breve, toda a discografia oficial da dupla.
Sei que deixei outras duplas importantes de fora, como
Kruder & Dorfmeister por exemplo, quem sabe não fica pra um outro post?...
Aproveitem: todos os discos foram ripados em alta qualidade sonora e estou disponibilizando os encartes completos de todos eles, também.
Novos Links! (5, 23kb) -
Sharebee